Dr Cadete fala sobre a importância da Obstetrícia e os avanços na Medicina
“Uma coisa que marca muito a gente é fazer um diagnóstico intraútero que salva o bebê”, diz Cadete
Ontem (12) foi o Dia do Obstetra. Essa data celebra uma profissão tão muito importante: daqueles que cuidam do nascimento da vida nova. Clodoaldo Cadete, obstetra há 34 anos, com certeza já cuidou do nascimento de muitas vidas de Vitória da Conquista. Aliás, com ele mesmo relata, fez partos de crianças, as viu crescer e fez o parto dos filhos delas. Durante todo esse tempo, Cadete tem uma certeza na vida de obstetra: trabalha com o prazer, não gosta de dizer que trabalha e sim que faz o que gosta. Cadete é obstetra desde 1984, quando se formou na Escola Baiana de Medicina, chegou em Conquista dois anos depois. Hoje, ele trabalha na clínica Sonnar, referência em Obstetrícia e ultrassonografia e também em gravidez de alto risco. Além disso, também é professor de Medicina na Uesb.
Confira a entrevista:
Siga.News: Como você decidiu que deveria trabalhar com obstetrícia?
Clodoaldo Cadete: A obstetrícia, eu não pensava em fazer obstetrícia antes de entrar em Medicina. Entrei para fazer psiquiatria, na verdade. Mas no decorrer do curso, eu fui tendo contato com as maternidades, contato com essa matéria que era ver o desenvolvimento do bebê e o crescimento e desenvolvimento do bebê, então eu comecei a gostar. E gostei mais ainda quando eu comecei a fazer a ultrassonografia na obstetrícia, que era ver o bebê por dentro. Como eu sou um apaixonado por fotografia, fiquei mais apaixonado ainda pela obstetrícia.
Siga.News: Quão gratificante é, hoje, trabalhar com isso?
Clodoaldo Cadete: É muito gratificante, porque a obstetrícia é uma especialidade que exige muito do médico, como todas as outras, mas exige muito. Porque você vive em eterno sobreaviso, você vive um eterno plantão, porque não há hora para nascer, você é chamado em qualquer hora do dia ou da noite e qualquer dia do ano. Inúmeras vezes, eu passei alguns natais, alguns réveillons, aniversários, trabalhando, fazendo parto. Não tem hora para nascer. Mas é muito gratificante, poder ver o nascimento de um bebê, acompanhar o desenvolvimento dele. E é mais gratificante ainda ver esse pessoal crescer e você fazer o parto deles, como já aconteceu, fazer o parto dos netinhos.
Siga.News: Já aconteceu muito isso?
Clodoaldo Cadete: Já, com trinta anos de formado já. Muitas e muitas vezes.
Siga.News: Como você enxerga os principais desafios da obstetrícia?
Clodoaldo Cadete: Existem muitos bons desafios e existem desafios ruins. Os bons desafios são enfrentar os problemas que a natureza reserva para alguns fetos, algum defeito, alguma doença genética, ou algo que pode ser reparado. Hoje, modernamente, já se pode fazer cirurgias até dentro do útero da mãe. Pode-se tirar o bebê do útero, operar aqui fora, devolver para o útero para ela terminar o desenvolvimento e fazer o seu parto. São desafios bons, esses. E os desafios ruins são aqueles onde você encontra ainda uma população que não tem acesso a um pré-natal de qualidade, acesso a estes exames que são complexos. O desafio é a gente trabalhar para que isso possa acontecer.
Siga.News: Ocorreu algum caso desse, de tirar o bebê, fazer a cirurgia e retornar ao útero, recentemente?
Clodoaldo Cadete: Um bebê estava com um problema congênito, um defeito na coluna, que forma um tumor, que é uma exteriorização da coluna e esse bebê teria uma grande probabilidade de nascer paraplégico e nascer com retardo mental. Porque o retardo mental ocorre pela compressão dos órgãos cerebrais devido ao problema na coluna. A chance que esse bebê tem é que ele seja operado até 26 semanas, até cinco meses de gestação. Ele não foi operado perto de nascer, não, ele foi operado com cinco meses de gravidez. A chance que tinha era de tirar esse neném, operar essa coluna, devolver esse bebê para o útero. Isso foi feito, eu encaminhei esse bebê para São Paulo, já não tem só uma equipe, já tem outras equipes fazendo isso lá, no Rio de Janeiro e Campinas, e esse médico operou o bebê com sucesso, botou ele de volta na barriga da mãe e o bebê veio nascer em Vitória da Conquista. Esse foi um dos casos recentes mais incríveis, há outros do passado, mas hoje já não são mais incríveis porque já se tornou uma rotina.
Siga.News: Me conta uma história que você tenha vivido que você acha que marcou sua carreira como obstetra. Eu ouvi um comentário uma vez de que as histórias boas são as mais frequentes, as histórias ruins são raras, mas são as que mais marcam, né?
Clodoaldo Cadete: Todos os partos são sempre bons. Os casos ruins, que tem um desfecho desagradável, na realidade, são desagradáveis, mas em contrapartida, ele nos dá experiência. Ninguém cresce sem sofrimento, isso é lógico, até o próprio bebê. Tem uma história interessante na gravidez. Os bebês, algumas mulheres costumam dizer que quem nasce de sete meses sobrevive e quem nasce de oito não sobrevive. A realidade não é bem assim, para constar essa história de sofrimento. O bebê de sete meses, quando ele sobrevive, ele sobrevive muito bem, às vezes nem para a incubadora vai, porque ele sofreu dentro da barriga da mãe. O sofrimento que ele tem dentro, faz com que ele libere um hormônio, um cortisol, e esse cortisol amadurece prematuramente o pulmão dele. É por isso que algumas mulheres, quando são hipertensas, tem preeclampsia, os bebês conseguem nascer com sete meses e meio, oito meses e nascem muito bem. Porque ele foi amadurecido pelo sofrimento que teve dentro da barriga.
Os casos frequentes são os casos mais felizes porque está na zona de conforto. Como está na zona de conforto, está tudo muito bem. Eu tive muitos casos interessantes. Eu tive casos que emocionam, por exemplo, fazer um parto de trigêmeos, meu primeiro parto de trigêmeos. Hoje é corriqueiro, mas naquela época, 30 anos atrás, eu fiz um parto de trigêmeos. Outra coisa que marca muito a gente é quando a gente faz um diagnóstico intra útero que repercute depois nesse bebê, que salva ele, ou então que salva ele de um processo mais sério na vida. Isso marca muito a gente. Então, isso é o nosso cotidiano. Conclusão: obstetrícia nos dá muito prazer, eu costumo dizer que eu não trabalho, eu tenho um lazer misturado com trabalho porque eu faço uma coisa que realmente eu gosto.
Fonte: Entrevista concedida a André Thibes para o Siga News (http://www.siga.news)
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