Endometriose e Avanços
O ginecologista e obstetra, Dr Carlos Lino, fala sobre a doença que atinge milhões de mulheres no mundo, e novidades no tema
Endometriose e Avanços
O especialista em Endometriose, Dr. Carlos Lino, fala sobre a doença que atinge milhões de mulheres no mundo, e novidade sobre o tema
Sonnar: Endometriose tem cura?
Carlos Lino: Endometriose é uma doença que se busca o controle. Não tem uma cura definida ainda, nem com a cirurgia considera-se que houve a cura, mas é uma doença que se controla o sintoma. Busca-se um tratamento clínico e, em alguns casos, cirúrgico. Então, a paciente de endometriose precisa ser acompanhada o tempo inteiro, por ter uma doença crônica, para monitorar sintomas e possível evolução, já que ela pode trazer uma situação mais complicada: como doença no reto, ou obstrução intestinal. Isso não acontece com todas as pacientes. Existem aquelas que permanecem com a endometriose até assintomática a vida inteira, mas as que são muito sintomáticas são aquelas geralmente as que precisam ser operadas para ajudar no controle do sintoma. Entretanto, é preciso enfatizar que todas precisam de acompanhamento, para monitorar a possível evolução na doença.
S: A cirurgia pode ajudar as mulheres significativamente para engravidar?
CL: A endometriose é um fator importantíssimo de infertilidade. Não é o único, mas a partir do momento que a paciente identificou a doença, e foi observada a interferência na dificuldade para a gravidez, obviamente que quando o médico acompanha e define um critério de tratamento, vai ajudá-la a engravidar. E um dos critérios, muitas vezes, é a indicação cirúrgica. Paciente que vem tentando engravidar há muito tempo e faz a cirurgia por laparoscopia para tratamento da endometriose, melhora os resultados tanto de gestação espontânea quanto fertilização de reprodução assistida. É importante identificar e tratar para que se permita que essas mulheres engravidem.
S: Existem predisposições para a endometriose?
CL: A endometriose é uma doença multifatorial. Se a mulher tem uma tendência familiar, se identifica uma endometriose importante numa paciente e ela tem irmãs, então você deve rastrear as irmãs. Se uma mãe teve uma endometriose importante, a filha quando estiver em idade reprodutiva, iniciando os sintomas que surgirem, ela deve ser investigada. Não é uma doença hereditária, mas tem forte tendência familiar. O que a gente pode considerar hoje de como fator que contribui para o aumento da endometriose é um número menor de gestações. Antigamente, as mulheres pariam muito, passavam muito tempo grávidas, muito tempo amamentando então elas menstruavam muito menos. Hoje a mulher menstrua muito mais do que as gerações anteriores às nossas, então ela está mais exposta à endometriose do que as mulheres de gerações passadas, que menstruavam muito menos.
S: A Idade Reprodutiva interfere na Endometriose?
CL: Se a gente considerar que a endometriose é uma doença crônica e que pode ser progressiva - porque pode ser - e as mulheres deixam para engravidar mais tarde, obviamente vai ter um comprometimento maior. Fora a própria idade da mulher que é um fator importante na definição do fator reprodutivo dela, ou seja, a idade ideal para a mulher ter filhos, seria entre 22 e 26 anos, como foi dito nesta Jornada (médico refere-se à III Jornada de Ginecologia e Obstetrícia do Sudoeste da Bahia). Não quer dizer que a mulher não engravide por isso não, significa apenas que após esta idade ela pode ter mais dificuldade para ficar grávida e às vezes precisa de ajuda para isso. E, se além da idade, ela ainda tem a endometriose associada, obviamente a dificuldade será maior.
S: Quais são os sintomas que merecem mais atenção na Endometriose?
CL: O que chama atenção basicamente na fase inicial é quando aquela jovenzinha começa a menstruar e sente muita dor, chamada Dismenorreia (cólicas no baixo ventre, além de desconfortos extragenitais no organismo da mulher. Surge na véspera da menstruação e desaparece no final do fluxo menstrual). Essa mocinha já merece atenção para a possibilidade de endometriose. Para um quadro mais avançado da doença, existe a chamada Dispareunia, quando a mulher sente dor na relação sexual, principalmente dor à penetração, lesões de vagina. Neste caso. a paciente pode ter a doença em sua forma mais avançada, que a gente chama de endometriose profunda.
S: Quais os exames necessários para a identificação da endometriose?:
CL: O padrão ouro considerado hoje é o ultrassom realizado com preparo intestinal, mas com profissional treinado para isso. Durante muito tempo se usava a laparoscopia para diagnóstico de doença. Ela continua tendo um papel muito importante na história da endometriose para tratamento, ou seja, as cirurgias para tratamento de endometriose são realizadas em quase sua totalidade por via laparoscópica. Mas, para o diagnóstico da doença não tem mais sentido hoje você fazer uma cirurgia, porque temos métodos de imagem que permitem avaliar a doença. Infelizmente, existem muitos poucos profissionais treinados para um exame adequado em uma paciente com suspeita de endometriose profunda. E a dificuldade que se tem hoje é este treinamento profissional, já que é um aprendizado que demanda tempo. Por isso, a gente ainda dispõe de muitos poucos profissionais com treinamento adequado para este diagnóstico. Quando você tem este profissional, seguramente o ultrassom com preparo intestinal funciona hoje quase como um mapa para definir estratégia de tratamento, com plano cirúrgico. Quando não tem um profissional treinado com esta técnica de ultrassom e um preparo intestinal, a ressonância nos dá uma ajuda. Deixa um pouco a desejar no quesito de avaliação de camada de reto que o ultrassom nos dá, mas já auxilia substancialmente nesta história. Pode ser ainda utilizado como complementar, quando faz uma uroressonância, que vai desenhar o trajeto do ureter e programar esta abordagem cirúrgica, e na suspeita de tumor maligno de ovário, a ressonância complementa e ajuda a definir estratégia também.
Dr. Carlos Lino é presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Bahia (SOGIBA) e membro da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE).
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